h1

Aula 3 – Texto complementar

setembro 3, 2007

O MEU GURI 

Chico Buarque

 

Quando, seu moço, nasceu meu rebento

Não era o momento dele rebentar

Já foi nascendo com cara de fome

E eu não tinha nem nome pra lhe dar

Como fui levando, não sei explicar

Fui assim levando ele a me levar

E na sua meninice ele um dia me disse

Que chegava lá

Olha aí… Olha aí…Olha aí, ai o meu guri, olha aí

Olha aí, é o meu guri!

E ele chega

Chega suado e veloz do batente

E traz sempre um presente pra me encabular

Tanta corrente de ouro, seu moço

Que haja pescoço pra enfiar

Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro

Chave, caderneta, terço e patuá

Um lenço e uma penca de documentos

Pra finalmente eu me identificar, olha aí!

Olha aí, ai o meu guri, olha aí…

Olha aí, é o meu guri!

E ele chega

Chega no morro com o carregamento

Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador

Rezo até ele chegar cá no alto

Essa onda de assaltos tá um horror!

Eu consolo ele, ele me consola

Boto ele no colo pra ele me ninar

De repente acordo, olho pro lado

E o danado já foi trabalhar, olha aí…

Olha aí, ai o meu guri, olha aí…

Olha aí, é o meu guri!

E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato

Com venda nos olhos, legenda e as iniciais

Eu não entendo essa gente, seu moço

Fazendo alvoroço demais

O guri no mato, acho que tá rindo

Acho que tá lindo, de papo pro ar

Desde o começo, eu não disse, seu moço?

Ele disse que chegava lá

Olha aí, olha aí

Olha aí, ai o meu guri, olha aí

Olha aí, é o meu guri!

]

Para imprimir/salvar este texto no formato word, clique no link abaixo com o botão direito do mouse e escolha a opção desejada.

O meu guri.doc 

Deixe um comentário